sexta-feira, 30 de outubro de 2015 36 comentários

FALANGEIROS OU QUALIDADES DE OMULÚ/OBALUAIÊ

   

    Dentro da Umbanda ouvimos falar muito do Orixá Obaluaiê, que se
desdobra como Omulú, é dito que Obaluaiê é a forma jovem do Orixá, e
Omulú é a forma idosa do mesmo Orixá.

    Obaluaiê/Omulú também pode ser conhecido pelo nome de Xapanã.
Porém Xapanã é um nome proibido tanto no Candomblé como na Umbanda,
não devendo ser mencionado pois pode atrair a doença inesperadamente.


    Mas hoje não vamos entrar nesse mérito, pois esse texto é para
falarmos dos Falangeiros ou Qualidade desse tão adorável e temido
Orixá.

    Para quem desejar saber mais sobre o Orixá em si, abaixo anexo o
link de um texto em nosso blog que descreve mais sobre ele.

Saudando Obaluaiê - Omulú.

Http://umbandayorima.blogspot.com.br/2013/08/obaluaie-omulu.html

    Mas como já dissemos, agora vamos falar dos Falangeiros, lembrando
que Falangeiro de um Orixá é aquela Entidade que está somente abaixo
do Orixá, ele comanda as legiões de Entidades e Espíritos que se
afinizam na vibração do Orixá que os governa.

    Os Falangeiros de Obaluaiê/Omulú vem divididos na seguinte forma:

Afoman/Akavan, Agbagba Jagun, Agóró, Ajoji/Ajagun, Ajoji Segí,
Arawe/Arapaná, Arinwarun/wariwaru, Avimaje/Ajiuziun, Azoani,
Azonsu/Ajansu/Ajunsu, Ipópó, Itetú Jagun, Itubé Jagun, Jeholu, Sapatá,
Tetu/Etetu Jagun, e Xapanã.

    Esses Falangeiros vem em irradiação com Obaluaiê/Omulú e vibração
ou fundamento com os seguintes Orixás:


Afoman/Akavan: Vem em vibração ou fundamento com Exú, Ogum, Oxumaré e
com Oiá (Iansã).

Agbagba Jagun: Vem em vibração ou fundamento com Oiá (Iansã).

Agóró: Vem em vibração ou fundamento com Oxalá e Iemanjá.

Ajoji/Ajagun: Vem em vibração ou fundamento com Ogum e Oxaguiã (Oxalá
Jovem).

Ajoji Segí: Vem em vibração ou fundamento com Iemanjá, Oxumaré e Nanã
Buruquê.

Arawe/Arapaná: Vem em vibração ou fundamento com Oiá (Iansã) e Oxalá.

Arinwarun/wariwaru: Vem em vibração ou fundamento com Oxum, Oxalá e
Oxumaré. Também vem em fundamento com ele próprio sendo esse nome um
título de Xapanã.

Avimaje/Ajiuziun: Vem em vibração ou fundamento com Nanã Buruquê,
Ossãe e Odé (Oxossi).

Azoani: Vem em vibração ou fundamento com Iroko, Oxumaré, Iemanjá e
Oiá (Iansã)

Azonsu/Ajansu/Ajunsu: Vem em vibração ou fundamento com Oiá (Iansã) ,
Oxumaré, Oxalá, Oxum e Ogum.

Ipópó: Vem em vibração ou fundamento com Nanã Buruquê.

Itetú Jagun: Vem em vibração ou fundamento com Iemanjá e Oxalá.

Itubé Jagun: Vem em vibração ou fundamento com Ogum, Xangô, Exú,
Oxaguiã (Oxalá na forma jovem) e Oxalufã (Oxalá na forma idosa).

Jeholu: Vem em vibração ou fundamento com Iemanjá.

Sapatá: Vem em vibração ou fundamento com Oxalufã (Oxalá na forma
idosa).

Tetu/Etetu Jagun: Vem em vibração ou fundamento com Ogum e Oiá
(Iansã).

Xapanã: Vem em vibração ou fundamento com Exú.

    Agora vamos falar resumidamente um pouco de cada desses
Falangeiros de Obaluaiê/Omulú. Frisando em alguns deles a roupagem,
artefatos e utensílios usados, personalidade, entre outras coisas.


Afoman: Também conhecido nas roças e terreiros como Akavan. Ele tem
como característica a forma jovem de ser. É um lutador, guerreiro e
destemido. Ao chegar no terreiro, vem de forma rápida como o vento,
forte como um raio, além de manter uma dança erguendo as mãos como em
luta intensa. Tem sua roupagem as cores estampadas., podendo ser a
maior intensidade as cores amarelo e preto. Carrega sempre com ele
duas bolsas onde carrega as doenças.

De olhar penetrante, esse Falangeiro demonstra muita força em tudo e a
todos. Sendo ele o senhor das plantas trepadeiras, se denomina o dono
delas, assim como dono das doenças que sobem pelo corpo, vindo dos pés
para a cabeça de alguém.

    Em sua chegada aos terreiros, sua dança ele movimenta os braços
como se estivesse cavando a terra,dizem que seria a cova que ele cava
para depositar os corpos desencarnados, que possivelmente lhe
pertenceria.

Agbagba Jagun: Falangeiro forte e perspicaz. Porte de guerreiro, tem
como característica a forma jovial, porém madura. Em sua roupagem tem
as cores branco e amarelo. Em alguns casos pode trazer na mão uma
espada que tem na empunhadura uma cruz.

Agóró: Esse Falangeiro tem como característica a forma idosa. Nos
terreiros e roças chega de forma lenta, de passos pesados e de fronte
posicionado para terra. Sua roupagem é da cor branca, e usa biokô com
franjas de palha, demonstrando sempre a ligação entre o nome Obaluaiê
e Omulú.

Ajoji: Esse Falangeiro também é conhecido como Ajagun nos terreiros e
roças. Pode ter duas características, uma sendo jovial de modo
guerreiro e perspicaz, ou pode ser um jovial de uma forma mais branda
que tem a palavra como símbolo de levar a paz e a calmaria.

    Na primeira característica tem roupagem na cor branco com detalhes
em vermelho, traz na mão uma espada ou um escudo. Na segunda tem
roupagem toda na cor branco, trazendo na mão uma cruz em madeira.

Ajoji Segí: Falangeiro de forma e característica madura, não
demonstrando a jovialidade, mas também não chega a ser idoso completo.

    Tem sua roupagem nas cores em tons de azul, verde, e roxo. Todas
com detalhamento na cor branco.

    Sempre chega em calmaria nos terreiros, e tem como uma
característica fundamental, ouvir, refletir sobre tudo que um
consulente esteja falando.

Arawe: Falangeiro muito respeitado nas roças e terreiros, que também
pode ser conhecido como Arapaná. Vem de duas formas, a forma
guerreira, porém refletiva sobre fatos que envolvem os trabalhos, e a
forma discursiva, levando a calmaria a seus consulentes.

    Em ambas as formas traz nas mãos, de um lado uma espada em aço, de
outro uma cruz em madeira.

    Sua roupagem em branco tem detalhes em amarelo. Para que assim
demonstre a benevolência de seu mestre Oxalá e a força de luta de sua
deusa Oiá (Iansã).

Arinwarun: Também conhecido como wariwaru nas roças e terreiros. Esse
Falangeiro tem uma característica na forma idosa do Orixá.

    Sua personalidade e bem fechada, de poucos gestos amigáveis,
poucas palavras. Tem gestos lentos, até um pouco sombrio.

    Raramente vem em terreiros para trabalhos. Dizem que traz as
doenças e pragas, e distribui para aqueles que faltam com respeito a
seu nome.

    Sua roupagem tem muitos mistérios, ele por vezes pode estar de
branco com detalhes azul anil, em outras vezes branco com detalhes em
verde e amarelo, e em outras vezes branco com detalhes em roxo. Mas na
sua forma mais fechada, onde se tem uma ligação maior com Xapanã, pode
vir nas cores preto e vermelho, com pequenos detalhes de branco.

    Em todas as formas traz sempre nas mãos uma cruz de madeira, essa
cruz teria sido envolvida com palhas da costa em forma de trançamento.

Avimaje: Com uma característica jovial, esse Falangeiro vem de uma
forma bem rápida e está sempre atento a tudo. Como um felino em uma
mata, está buscando sons diferentes e imagens que lhe chamam atenção.
Ao mesmo tempo que age dessa forma, tem a serenidade e a maturidade
de um ancião.

    Tem muita ligação com ervas, flores, frutos, e tudo ligado a
floresta. Podendo ele curar as doenças e pestes através dos
ensinamentos e entendimentos sobre a flora.

    Sua roupagem é nas cores branco, verde, amarelo e roxo. Podendo em
alguns casos ele decidir e desejar uma lança, feita em madeira e
trançada com palha da costa.

Azoani: Esse Falangeiro tem como finalidade a forma jovem. Está
sempre atento a tudo e a todos.

    Tem na roupagem as cores preto e branco, em outros casos a
roupagem é em vermelho, tendo as palhas da mesma cor. Traz na mão uma
espada em forma de raio, que usa para espantar obsessores e doenças.

Azonsu: Também conhecido nas roças e terreiros como Ajansu ou Ajunsu.
Ele é muito extrovertido e perspicaz. Tem ligação extrema com o tempo,
as estações do ano e ao culto da terra.

    Ele é o verdadeiro dono do cuscuzeiro, mas normalmente só
carregava o apetrecho sem a massa.

    Sua roupagem vem nas cores vermelho, branco e preto, e sempre
leva na perna esquerda uma pulseira de aço. Também traz em uma das
mãos uma lança de madeira, enfeitada com palha.

Ipópó: Falangeiro de característica e forma idosa, sendo extremamente
sério nas palavras e nos gestos. Tem uma grande colocação no pensar de
seus filhos. Gosta de tudo dentro das normas, e detesta quando um
filho quebra uma regra. Se agrada bastante ao saber que um filho segue
da melhor forma suas colocações, principalmente no modo de agir.

    Sua roupagem é dividida nas cores branco e roxo, usa biokô, e em
alguns casos traz nas mãos um pedaço pequeno de madeira circulado por
palhas da costa.

    Sua dança é lenta, porém nessa dança se caso necessário for
preciso retirar um obsessor no ambiente que se encontra, a dança se
torna rápida de forma circulares, podendo ser feito dessa forma até
toda a limpeza do ambiente seja feito. Nesses casos de tempos em
tempos no período da dança, esse falangeiro bate no chão com seu
pequeno pedaço de madeira que traz nas mãos.

Itetú Jagun: Nessa forma de Falangeiro, o nome Omulú rege mais do que
o nome Obaluaiê, portanto a característica é uma forma idosa, porém
vibrando e tendo fundamento com Oxalá e Iemanjá, o Falangeiro Itetú
Jagun vem a trabalho com um ar sereno, calmo, amável, demonstrando
atenção e carinho a todos os seus consulentes.

    Sua roupagem pode ser toda em cor branco, ou toda em azul claro
com detalhes em branco.

Itubé Jagun: Falangeiro muito forte, sagaz, de extrema visão para
combate de obsessores. Tem Características e forma muito jovem,
batalhador e guerreiro. Do tipo que nunca foge a uma quizila, esse
Falangeiro deve ser respeitado ao extremo, nunca devendo ser
consultados com intenções escusas, desejos de mal aos semelhantes,
amarrações, pois, como são temas que não constam nas permissões
espirituais, ele pode se ofender e levar a quizila para o lado do
consulente que fora pedir essas coisas errôneas.

    Sua roupagem varia em demasia, pode usar cores fortes como o preto
e vermelho, até cores neutras como o branco com detalhes de diversas
cores, vindo do verde até o marrom, dependendo de sua irradiação do
momento.

    Ele leva em uma das mãos uma lança chamada de Ocó, e dessa lança
além de proteger os filhos de obsessores, ele também caça com ela o
Igbin (uma espécie de caracol), que somente ele come, trocando essa
iguaria pelo conhecido feijão preto e o cuscuz, que normalmente é a
comida dos outros Falangeiros de Obaluaiê/Omulú.

Jeholu: Falangeiro de nome sagrado, de forma e característica madura,
não chegando a se demonstrar idoso, mas também não tão jovial. É
considerado o senhor das pérolas, e de todos encantos que essa joia
proporciona.

    Tem como fundamento demonstrar segurança a seus filhos, e
interceder sempre ao Orixá pela proteção de quem busca ajuda a esse
Falangeiro.

    Sua roupagem vem na cor bege, normalmente sem detalhes de outras
cores. Traz nas mãos um pano azulado, que dizem que seria com ele que
cura as doenças que teimam em permanecer em nosso corpo. E com esse
próprio pano é que ele faz sua dança, como fosse um pequeno manto
sagrado, assim como sagrado seria o Falangeiro Jeholu.

Sapatá: De forma e característica idosa, esse Falangeiro vem
totalmente na linha branca. Raramente se manifesta em trabalhos ou
Giras, mas mesmo assim sua vibração é muito importante para esses
encontros, pois ele vibra em todos os Orixás que usam a cor branco ou
mesmo tenham detalhes nessa cor nas roupagens.

    Ele carrega na mão uma cruz em madeira clara, e sua roupagem é
literalmente toda na cor branco, determinando assim sua ligação
grandiosa com seu mestre Oxalufã.

Etetu Jagun: Também conhecido como Tetu nas roças e terreiros. Sua
característica e forma é bem jovem, e sem dúvida é o mais guerreiro
entre todos os Falangeiros de Obaluaiê/Omulú.

    Ao chegar em um terreiro, faz menções de luta entre ataque e
defesa nas colocações de sua dança. Tem nas mãos uma espada e um
escudo, nos pulsos braceletes em aço, como os medievais. Sua luta
constante contra obsessores e doenças, faz desse Falangeiro um grande
protetor de todos. Ele nunca desiste de uma guerra para trazer de
volta a paz e a saúde.

    Sua roupagem em tempo de calmaria e toda na cor branco, mas em
tempos de luta os detalhes dessa roupagem se dividem nas cores
vermelha e amarela. Ele também usa biokô.

Xapanã: Falangeiro de forma e característica jovem. Um lutador contra
tudo. Traz no semblante um sorriso de seriedade a ironia. Muito ligado
a Exú, se deve prestar bem atenção ao se pedir algo a esse Falangeiro,
para que não seja algo de ruim a um semelhante, para não sair da
consulta carregando uma mazela ou um mal físico.

    Dizem que Xapanã, assim como todo seu reino, é o que traz as
doenças e as distribui as pessoas, ou seja pelo mau ato da pessoa, ou
seja por um destino, sendo assim ele segue ordens do reino das
evoluções humanas.

    Sua roupagem é nas cores preto e vermelho, nunca usa branco ou
roupas claras. Traz na mão esquerda uma cruz cunhada em madeira e
detalhes em aço, amarrada e trançada com palhas nas cores preta e
vermelha, essa cruz tem um diferencial de outras que alguns
falangeiros de Obaluaiê/Omulú usam, ela tem entre duas a duas e meia
vezes o tamanho das outras, podendo assim ser usada como um cajado.

    Para finalizar, resumidamente descreveremos um pouco do próprio
Orixá na forma de sua roupagem e características, assim como foi feito
com seus Falangeiros.

    O Orixá Obaluaiê/Omulú é rei da terra, sendo essa sua fonte de
força e energia.

    Sua roupagem é feita de ikô, um tipo de fibra extraída do igí
ogoró, a palha da costa, que é um elemento de grande significado
ritualístico, em especial em ritos ligados a morte. e as coisas
sobrenaturais, demonstrando que sua presença algo deve permanecer
oculto.

    A roupagem de Obaluaiê/Omulú é composta em duas partes que são
conhecidas como "Filá" e o "Azé".

    A primeira parte, que se compõe na parte de cima e que cobre a
cabeça é um tipo de capuz, que é trançado de palha da costa acrescido
de palha por toda sua volta indo da parte de cima até a cintura. Já o
Azé, seu asó ikô (roupa de palha), é uma saia feita em palha da costa,
que vai da cintura até os pés.

    Também em alguns casos, pode ficar essas palhas acima dos
joelhos, e por baixo desse saiote vai um "Xocotô" ou um "Biokô", que
são uma espécie de calça, também conhecido como
"calçulú", que seria usado para ocultar o mistério da morte e do
renascimento.

    Nessa vestimenta descrita acima, temos como acompanhamento algumas
cabaças que vem penduradas, onde supostamente se carrega remédios para
todos os males. Ao vestir-se com ikô e cauris, obaluaiê/Omulú revela
sua importância e grandiosa ligação com a morte.

    Obaluaiê/Omulú é um dos mais temidos e respeitados Orixás, talvez
por essa ligação que tenha com a vida e a morte, mas muitos filhos de
Umbanda tem um certo receio de falar, admirar e entender os ritos
desse poderoso Orixá e seus Falangeiros.

    Mas como outros Orixás, Obaluaiê/Omulú e todos seus Falangeiros,
só trabalham para nosso bem, nossa saúde, nossa evolução. Eu, Carlos
de Ogum, particularmente, tenho uma grande devoção e admiração por esse
Orixá, e posso dizer por experiência própria que Obaluaiê/Omulú e
todos seus Falangeiros, nos atende nas horas de grande aflição diante
de um mal na saúde física. Basta termos fé, e a resposta sempre vem.

Atotô meu Pai Obaluaiê/Omulú!

Atotô Babá!

Saravá todos os Falangeiros desse grande Orixá.


Carlos de Ogum.


terça-feira, 20 de outubro de 2015 70 comentários

A HISTÓRIA DA CIGANA SARA MENINA.







 A História da Cigana Sara Menina.

Foi numa noite de luar que a vi,
noite bela de céu estrelado,
sem pensar parei perto de ti,
com sua dança me deixou encantado.

    Menina Cigana ou Cigana Menina,
a ti peço para ler a minha mão,
ela a mim chegou e apenas sorria,
Cigana tão linda me dê proteção.

    No Céu estrelado a Lua a Brilhar,
na minha mão a sua mão tão pequenina,
encanta com fascínio a quem dela se aproximar,
Bela Cigana linda rainha Sara Menina.

    A linda Ciganinha Sara Menina, tem sua história encarnada em
várias regiões do Brasil., pois seu povo nômade por estar sempre a
viajar sem paradeiro, tinha a felicidade de conhecer várias e várias
regiões por todo o mundo.

    Essa Ciganinha era muito sorridente, tinha o dom da quiromancia
(arte de ver o futuro das pessoas pelas linhas da palma da mão), tinha
o frescor das flores, a leveza dos ventos no qual fazia dessa Cigana
uma dançarina sem igual. De pouca idade e com uma face digna de uma
princesa, a Cigana Sara Menina chamava a atenção em todos lugares que
estava, e tanto Ciganos ou Gadjos ficavam encantados com tanta beleza
daquela Cigana de olhar infantil.

    Logo que entrou na adolescência, a jovem Sara foi apresentada como
a mais nova futura noiva de algum Cigano, que deveriam ser levados
pelos pais até o pai da Ciganinha, a vontade de desposá-la, tendo que
para isso demonstrar as suas riquezas, pois aquele que mais tivesse
bens, seria o escolhido para ser o futuro noivo da menina.

    Mas na mente da menina Sara, não era justo essa colocação sobre a
vida dela. Ela tinha sonhos, vários sonhos, e entre esses sonhos, o de
se casar por amor, o de poder escolher a pessoa que iria acompanhá-la
pelo resto da vida, fora que ela se achava extremamente nova na idade
para ter um compromisso desses.

    Sara também tinha outros sonhos, o de ser tão respeitada como sua
Madrinha, uma Cigana de meia idade, que era a senhora das porções
mágicas, a que ajudava a todos, a que não era submetida as vontades
dos homens do clã, pois fazia o que desejava, na hora que desejava,
sem que o chefe de seu povo mostrasse insatisfação com isso.

    Sara queria ser independente assim como sua madrinha, e dessa
madrinha que aprendeu muitas e muitas lições sobre o mundo oculto e
espiritual dos Ciganos. E com isso ela percebeu que poderia mudar seu
destino, não que não se orgulhasse de sua mãe e de todas as outras
Ciganas, que realizavam um trabalho constante e duro que era feito nos
acampamentos, mas ela achava que poderia fazer muito mais, poderia
fazer a diferença, poderia ajudar muito mais com sua benevolência,
sua magia, seu carinho e seu amor para com todos os semelhantes,
sendo Ciganos ou Gadjos.

    Com acerto entre famílias, a Cigana Sara Menina teve seu
pretendente escolhido, era um jovem rapaz que tinha orgulho de seu
povo, e orgulho maior de suas tradições, entre elas a de fazer a
da esposa uma mulher submissa, que deveria seguir as ordens e a
vontade do marido, ser a guardiã dos filhos, e se submeter as ordens
não só do esposo mas também de toda a família dele.

    O pai de Sara gostou do acordo feito e ordenou que o entrelace
deveria ser feito dentro de 3 meses, e que todos deveriam se preparar
para a festa, que duraria ao menos 3 dias.

    Sara entristecida mas obediente aceitou sem mencionar a sua
verdadeira vontade, a vontade de ser livre, de ajudar a quem
necessitava, de fazer a caridade.

    Tudo aquilo ligado ao seu povo era muito pequeno para os sonhos da
menina, mas ela acreditava que não teria como fugir de seu destino.

    Certo dia Sara teve que ir ao encontro de uma velha Cigana, Cigana
essa que fazia as imantações, fazia os ensinamentos, fazia as regras
que uma jovem Cigana, que estava prometida em casamento a um Cigano,
deveria entender e fazer tudo conforme o ensinado e determinado.

    Entre essas lições, ela tinha que aprender a abordagem a pessoas
dos arraiais próximos, para que assim fosse demonstrado seu dom de
quiromancia, vidência, mostrar que estava preparada a falar do
passado, presente e futuro de alguém, ao troco de algumas moedas, ou
joias, sendo esses rendimentos levado ao esposo, como forma de
gratidão por ele a tê-la desposado.

    E assim foi feito pela menina Sara, sendo olhada de longe por sua
mestre de magias, ela se infiltrava no meio do povo, que demonstravam
um certo receio de chegar perto da pequena Cigana.

    Nesse momento ela sente alguém segurar em seu braço. com um leve
sobressalto ela olha fixamente em direção a pessoa que ainda estava a
segurando.

    Era um rapaz branco, de sorriso leve, olhos brilhantes, tinha suas
vestes surradas, e que logo foi lhe perguntando se ela poderia ver
seu futuro.

    A menina com um olhar desconfiado, mas um tanto encantada com o
rapaz, respondeu que sim, poderia mas queria algumas moedas em troca.

    Após o acordo feito ela pegando na mão do gadjo, começou a falar.

    "Você é um moço guerreiro, vive para e pela caridade. Tem no
sangue a vontade de justiça, e está aqui de passagem. Terá muitos
inimigos, mas terá muitos que vão guardar seu nome, seu rosto, seu
carinho e sua caridade até os últimos dias de vida. Não terá ouro nem
prata, mas terá a benção do Pai Maior em sua evolução espiritual. Sua
vida parece não ser longa, assim como longa também não será a vida de
sua companheira de jornada. Vejo sangue, muito sangue em seu caminho.
Desamor, injustiça, morte. Vejo crianças mutiladas, grandes crateras
tomadas por corpos inertes. Vejo você chorando. Vejo você abraçado a
uma moça, seu rosto não aparece. Ela parece chorar. Dois grupos estão
tentando eliminar vocês. Estão abraçados. Gritos, armas de fogo, armas
brancas. Vocês..."

    O rapaz atento pergunta: "Vocês?"

    Ela entristecida cerra os olhos, se cala, e diz: "Acho que estou
enganada. Desculpe, tome de volta suas moedas." E sai em disparada,
sem que o gadjo consiga a alcançar no meio da multidão.

    A menina Sara vai de encontro com sua mestre nas magias Ciganas,
em desespero pedindo para que voltassem ao acampamento. A mulher
Cigana a olha no fundo dos olhos e diz a pequena assustada que a vida
as vezes prega peças grandiosas, e que aquele momento tinha se criado
uma nova era para a pequena, daquele instante para frente muitas
coisas poderiam mudar, ela poderá conhecer novos horizontes e novos
caminhos, novas pessoas e novas caridades, novas alegrias e novas
tristezas, novos sentimentos, como o puro amor e a dor do ódio, poderá
entender e até ultrapassar a linha da vida com a da morte.

    Dizendo isso a Cigana que era a dona das magias pega na mão da
menina e a leva a passos largos para o acampamento, pedindo a ela que
rezasse, orasse e clamasse a Santa Sara Kali por proteção e luz na
hora de sua caminhada de aventuras e de dor extrema.

    A menina ainda sem entender muito bem todas aquelas palavras da
velha Cigana, fez o que lhe foi mandado. Contudo uma coisa ainda a
perturbava a mente entre uma oração e outra. E era a imagem do jovem
gadjo, a imagem de seu sorriso, a imagem de seu olhar.

    Sete dias se passaram, e numa tarde de primavera, Sol em alta, céu
azul cintilante, a jovem Sara foi aos pés da cachoeira se banhar, e no
caminho se depara com o gadjo, que tanto lhe chamou atenção.

    Ela se afasta um pouco das outras Ciganas, e por entre as árvores
para diante do rapaz.

    Após um pequeno diálogo, ela sente-se eufórica, feliz como nunca
havia se sentido antes. Sabia que era um sentimento que jamais
sentira, e sabia que era algo relacionado com a presença do gadjo.

    A partir desse dia os encontros se tornaram frequentes, dia após
dia a menina Sara conseguia escapar das vistas das Ciganas, do
acampamento e das correntes de seu clã para ir ao encontro do jovem
rapaz.

    Muitas eram as conversas, muitas eram as aventuras contadas pelo
rapaz. Ele era uma pessoa caridosa, tinha nas veias o sangue de um
guerreiro, que se importava com tudo e todos. E foi numa dessas
conversas que o jovem conto a menina sobre seu trabalho árduo de
libertar, acalentar, cuidar, proteger crianças órfãs judias e nômades,
que eram caçadas pelos atrozes homens da guerra.

    Sara se encantou com tudo isso, e decidiu que esse era o caminho
para demonstrar sua caridade. Desejava fortemente fazer parte desse
trabalho. Decidiu abandonar seu clã, suas tradições, seu pretendente,
sua vida cigana. Sentia no coração a chama da caridade. Seus olhos
brilhavam, seu coração pulsava rapidamente.

    Após uma longa conversa, os dois decidiram, partir para longe do
clã, em busca de auxiliar essas crianças. E assim foi feito.

    Durante algum tempo resgataram as crianças órfãs, levando-as para
esconderijos, dando-lhes alimentos, medicamentos, proteção e amor.

    Sara e o jovem gadjo, apaixonados, faziam juras de amor entre si.
E juntos planejavam novos resgates de crianças em campos de
extermínio, que eram usados pelos homens da guerra para assassinar
esses seres inocentes.

    Soldados nazistas que espalhavam um ódio sem limites, começaram a
perseguir o jovem casal, principalmente após saberem que era uma
Cigana que estava indo contra as ordens sangrentas dadas pelo primeiro
escalão da guerra.

    Muitas perseguições passaram a acontecer sobre o casal. Sara que
tinha a vidência Cigana, conseguia analisar e escapar de tantas e
tantas emboscadas. Mas com a mente voltada para tantas e tantas
covardias feitas pelos soldados nazistas, Sara se fixou somente a
esses atrozes, esquecendo-se de seu antigo prometido a entrelace.

    O jovem Cigano que antes tinha a menina Sara como prometida, não
poderia aceitar, pelas suas tradições, que sua futura esposa o
deixasse, que ela descumprisse o acordo firmado entre as famílias, que
ela fugisse do acampamento sem dizer nada. Ele estava desonrado, e só
teria um modo de voltar a ser respeitado dentro do clã. A morte de
Sara.

    Ele partiu em busca de limpar sua honra, principalmente após
descobrirem que a jovem tinha fugido com um gadjo. Ambos deveriam
morrer.

    Meses e meses se passaram, a guerra continuava, milhares de
crianças judias e nômades foram salvas pelas mãos do jovem casal. E o
Cigano que buscava pela justiça não desistia de encontrar a menina
Sara e seu amor proibido.

    Até que certo dia, em uma das milhares de fugas, Sara e o jovem
gadjo se encontraram encurralados pelos soldados do mal. Em uma
pequena clareira cercados por uma dezena deles, o casal não sabia o
que fazer. Vendo o ódio nos olhos dos soldados, Sara se lembrara das
palavras da velha Cigana no dia em que encontrou o jovem gadjo pela
primeira vez, lembrando-se também das suas próprias palavras ao ler as
linhas da mão do jovem que lhe trouxe tantos sentimentos lindos.

    Ela sente lágrimas rolarem em seus olhos. Sabia que o fim estava
próximo. Sabia que era o momento de se separar de seu amor, o momento
de não mais poder fazer a caridade para aquelas tão sofridas crianças.
Lembrou que ela mesma ainda era uma criança,.

    Olhou para o rosto sofrido de seu amado, escutou um estampido de
arma de fogo, viu o sangue do gadjo nascer do seu peito, viu o ultimo
sorriso tímido do rapaz para ela, viu seu corpo caindo inerte ao chão,
viu a morte chegando e levando a alma límpida do rapaz.

    Em sua volta soldados de armas em punho, gargalhavam a morte do
rapaz. Ela cai de joelhos, e no seu silêncio mental e entimo clama
por sua Amada Santa de devoção, a linda Santa Sara Kali, pedindo-lhe
que acolha o espírito de seu amado, que a proteja, e que sua dor dessa
perda sendo maior que a dor de seu próprio desencarne, ela pede
humildemente que a morte também a levasse, pois acreditaria que
nunca sentiria uma dor tão grande, como a dor de ver aquele jovem
rapaz com seu corpo ao chão banhado de sangue, o sangue do heroísmo e
da coragem de lutar em favor da caridade feita as pobres crianças
órfãs. As crianças que também deveriam ser eliminadas pelo terror da
guerra, se esse jovem gadjo não tivesse entregue sua própria vida para
tentar salvar, uma a uma desses pequenos seres que estavam morrendo,
sem ao menos entender o porque.

    A pequena Sara de cabeça baixa em suas orações, por um instante
ergue os olhos já esperando pela sua morte pelas mãos dos sangrentos
soldados, que já se preparavam para atacar a jovem, quando sem que
esperassem foram atacados por um grandioso grupo de Ciganos,
liderados pelo jovem Cigano que um dia a menina Sara fora prometida
por seu pai.

    Nesse ataque inesperado, muitos soldados desencarnaram, assim como
alguns Ciganos, mas como o número de Ciganos era maior, os soldados
nazistas bateram em retirada, tentando salvar a própria vida.

    O jovem Cigano chegando ao encontro de Sara, ergue-lhe as mãos
para auxiliar que ela se levantasse do chão empoeirado e com sangue a
todos os lados.

    Sara se encontrava ilesa, apesar da grande luta entre Ciganos e
Soldados, mesmo ela ao centro de todo acontecimento, ela não tinha
nenhum ferimento aparente, a não ser de seu coração dilacerado pela
perda de seu jovem gadjo.

    Os Ciganos rapidamente saíram do local em questão, pois era certo
que soldados retornariam para uma vingança sobre os seus atrozes
atacantes. Sara fora levada junto, mesmo desejando ficar, pois o corpo
de seu amado ainda se encontrava no local, que nesse momento estava
rodeado por curiosos e alguns aproveitadores, tentando pegar algo de
valor nos bolsos do jovem falecido, sem o menor constrangimento e o
menor respeito.

    Sara ao ver o que se passava, tentou se livrar das mãos dos
Ciganos que a puxavam fortemente para que ela acompanhasse o grupo. O
jovem Cigano, sem esboçar um só gesto facial, continuava seguindo a
frente de seu grupo, como que se as ações da menina Sara não lhe
chamasse atenção.

    Sara partiu chorando copiosamente, presa nas mãos de outros
Ciganos, como uma verdadeira prisioneira. E assim partiram em direção
do acampamento de seu povo.

    Ao chegar ao acampamento, o Cigano na qual a menina Sara era
prometida, manda reunir todos os clãs, que ali se encontravam para os
festejos do casamento de ambos.

    Os Ciganos se reuniram na clareira, onde estava uma grande
fogueira acesa, que na tradição daquele povo, era para iluminar o
futuro casal, para terem fartura, saúde e tudo mais que um jovem
casal Cigano buscava ao se entrelaçar matrimonialmente.

    Os pais e todos os familiares da menina Sara se encontravam em um
único canto do acampamento. Eles, ainda desonrados pela fuga de Sara
com um gadjo, não compreendiam o aceite do jovem Cigano, que mesmo
após a desonra, ainda fora buscar sua ex pretendida, e fazia todas as
honras que uma jovem Cigana receberia no dia de seu matrimônio.

    Mas algo estava incomodando, não só a Sara, mas a todos do
acampamento. O jovem noivo, diferentemente de outros Ciganos que
sorriam, dançavam, cantavam as músicas lindas ciganas, bebiam
festejando os noivos, ele apenas fixava seu olhar a Sara, sem dizer
uma palavra, sem esboçar um sorriso, demonstrando em seu olhar um ódio
grandioso por tudo que tinha ocorrido.

    Sara por sua vez, sem receio fixou o olhar nos olhos do rapaz, e
pausadamente diz com a voz um pouco rouca, ainda abafada pelo choro e
pela dor de perder seu amor.

    "Sei que seu ódio é maior que seu amor. Sei que toda essa festa é
para você demonstrar seu poder, e o poder de sua família diante de
nosso povo. Sei que essa noite irei ao encontro de meu amado. E sei
que esse amado não é você. Se você acha que me tirando a vida estará
me fazendo mal, está enganado, pois você não pode me tirar algo que já
não tenho mais. Minha vida se foi juntamente com a vida de meu herói,
herói que deu sua própria vida pela vida de crianças que ele nem
conhecia, coisa que você nunca faria. Pois você pode se considerar um
guerreiro Cigano, mas nunca chegará a ser um herói, pois só busca a
guerra, e a guerra apenas de seus interesses. Você nunca será um
herói, apenas um Cigano desonrado. Sei que vai me matar, não sei
quando, mas sei que vai. Vejo sangue, vejo ódio, vejo sua falsidade em
seus olhos. Mas estou em paz, pois vejo minha Santa Sara me
protegendo, me levando, me mostrando um caminho para que continue
minha caridade a meus semelhantes, coisa que seu egoísmo nunca o
deixará fazer."

    Ouvindo essas palavras o Cigano jovem, se levanta, vai até o
centro do acampamento, chama a atenção de todos, a música para, o povo
se silencia, a família de Sara se aproxima a pedido do rapaz.

    Ele com um tom de voz firme, mas um tanto irônico, começa seus
dizeres, que após alguns dias de buscas, cá estava ele pronto para seu
casamento com a jovem prometida. Pede para dois Ciganos trazerem a
menina Sara, que chega até junto do rapaz. Ele com os olhos vermelhos
de ódio, esboça um leve sorriso, dizendo: "Você Sara, está prometida a
mim, seu pai fez o acerto com o meu, não tem como fugir de seu
destino. Esteve distante por algum tempo, mas agora está aqui. Você é
minha, e eu determino o que será de seu futuro."

    Sara com um olhar serio mas sereno diz ao Cigano: "Meu destino
está nas suas mãos. Minha vida lhe pertence até o brilhar de sua
adaga pelo clarão da Lua e de sua covardia. Estou em suas mãos aqui,
mas logo estarei nas mãos e na proteção de Sara Kali, onde poderei
voltar a ser feliz fazendo o bem e sem precisar me esconder dos homens
da guerra e Ciganos do mal."

    O Cigano fecha o semblante, retira de seu bolso um anel de ouro,
tendo esse anel um detalhe de estar quebrado, que dentro das tradições
e crenças ciganas significa que o compromisso não existe mais. Mas
mesmo assim ele o coloca no dedo de Sara, enquanto todo povo não
compreende as verdadeiras intenções do Cigano.

    Ele abre um sorriso irônico, abraça a menina Sara, e nesse abraço
tira sua adaga da cintura e crava nas costas da Cigana sob o olhar
atônito de todos que ali se encontravam para acompanhar o casamento.

    Ele ainda abraçado ao corpo de Sara, diz em seu ouvido: "Esse é
meu presente para você, a minha prometida, estou livrando a ti de
passar o resto de sua vida com um homem que você não ama, que você não
admira, que você não vê como um herói. Meu presente para você é a
morte"

    Sara, sentindo seu sangue ser perdido, as forças sendo
exterminadas, a dor que percorria todo corpo, sussurra baixinho a seu
atroz assassino dizendo: "Agradeço seu presente, perdi a vida, mas
ganhei a luz em poder evoluir ajudando a quem necessita, ganhei a
felicidade de poder estar junto com minha amada Santa Sara, ganhei a
benção de poder tirar essa dor de não estar com quem realmente me
mostrou a verdadeira caridade, ganhei a liberdade de poder caminhar
sem ser escrava de um Cigano covarde que não sabe o significado da
palavra amor. Só posso dizer-te, muito obrigado."

    Ele retira a adaga das costas de Sara, e ela cai ao chão, inerte,
mas com um semblante calmo e sereno. Ele olha suas próprias mãos com o
sangue da jovem, se desespera, grita, se joga ao chão, abraça o corpo
da menina sem vida, e vendo que ela não responde seus apelos, se
levanta em um desespero extremo, vai para o centro da fogueira, salta
para dentro das chamas ardentes, e com a adaga na mão a insere em seu
próprio peito já em chamas.

    Seu corpo queimado desaparece em meio das chamas. Ciganos e
Ciganas sem saber o que fazer, apenas olham com um olhar atônito, os
familiares gritam pelo seu nome, mas o rapaz nesse momento já se
encontrava morto.

    A noite com o clarão da Lua, fica mais clara com um grande feixe
de luz, que saia das estrelas vindo ao encontro com o corpo da menina
Sara. Desse feixe os Ciganos boquiabertos, viram a imagem da Santa
padroeira daquele povo, e claro da jovem menina, essa imagem desce
até o local que Sara se encontrava, e diante de todos, a imagem de
Santa Sara Kali retorna levando pelas mãos o espírito da menina Sara,
uma espírito iluminado, que demonstrava sorrir, roupas claras, e em
sua mão esquerda o anel de ouro partido.

    O feixe de luz foi se desaparecendo, enquanto muitos Ciganos
caíam de joelhos em orações, outros choravam a partida da menina, e
outros rogavam proteção.

    Sara Menina a partir desse dia foi conduzida ao reino de Entidades
de Luz, e hoje trabalha em prol da caridade em terreiros de Umbanda,
trazendo ensinamentos, pedindo proteção as crianças, mostrando os
males da guerra, os males do ódio, os males que todos seres humanos
buscam com seus sentimentos mesquinhos e intolerantes, sendo esses
seres humanos de todas as raças, etnias, posição social, modo de
pensar, seja eles Ciganos ou Gadjos.

    Que a Cigana Sara Menina nos proteja, nos guarde e nos mostre como
podemos evoluir para um caminho de luz que nos leve aos braços do Pai
Maior.

    Saravá a Cigana Sara Menina!

Opchá Povo Cigano!

Carlos de Ogum.




sábado, 10 de outubro de 2015 65 comentários

DIÁLOGO ENTRE UM EXÚ E UM PRETO VELHO

       
    Na Umbanda temos maravilhosas Entidades de Luz. Entidades essas
que evoluíram de tal forma em suas vidas encarnadas que foram
abençoadas por Zambi (Deus) para se tornarem seres iluminados que
trazem a caridade, a paz, o amor, a saúde, aconselhamentos, aberturas
de caminhos e evolução a nós, simples seres humanos, repletos de
defeitos, mesquinharias, sentimentos de ódio, inveja, desamor.

    Essas Entidades de Luz vem de diversas formas, linhas e
irradiações. São determinadas a esses trabalhos árduos, de fazer
chegar a compreensão a nós, seres inacabados, pelos poderosos Orixás
de Deus, fazendo assim que essas Entidades divinas fiquem entre a
força divina da natureza do Pai Maior, que são os Orixás, e entre nós,
humanos repletos de erros e sentimentos ruins.

Essas Entidades maravilhosas vem como Pretos Velhos, Caboclos,
Boiadeiros, Ciganos, Erês (Ibeijadas, Crianças), Malandros, as Pombo
Giras e nossos amados Exús.

    E vamos falar justamente dos Exús, claro englobando também as
Pombo Giras.

    Essas Entidades são extremamente dedicadas as causas que são
determinadas a elas. Tem uma segurança incrível, uma determinação
maravilhosa, uma luz sem igual, um apego divino a seus protegidos,
enfim, são Entidades de Luz, voltadas para a pura caridade, sempre
mostrando o caminho correto, sempre pregando que o mal nunca deve ser
pedido, sempre ensinando a nós, seres não evoluídos e egoístas, que
temos livre arbítrio, que amarração é algo de pessoas sem amor
próprio, que desejar o mal a seu semelhante e algo que só vai servir
para trazer o retrocesso da evolução espiritual.

    Mas se essas Entidades agem assim, se elas pregam essas palavras,
se elas fazem de tudo para nos ensinar fazer o bem, porque são
temidas, porque usam o nome delas para fazer o mal, porque é pregado
que nossos amados Exús tem ligação com seres das trevas?

    A verdade disso tudo é a falta de informação, a pregação dada por
pessoas que se fiam no dinheiro, a mistificação e a falsidade de
alguns líderes de algumas religiões, principalmente algumas ditas
evangélicas, que necessitavam arrumar algo para demonizar, e assim
fazer seus fiéis temerem algo que não conheciam, obrigando-os a se
entregarem as falsas pregações desses líderes, e claro pagando seus
dízimos, ofertas, obrigações, entre outros vários tipos de cobranças
feitas por esses líderes mal intencionados.

    Também vemos dentro da própria religião umbandista, alguns líderes
com essa mesma intenção, a de surrupiar bens de consulentes mal
informados. Só que nesses casos não pregam que os Exús seriam ligados
as trevas demoníacas, e sim que eles faziam magias para levar o mal a
um semelhante, eles traziam e amarrariam pessoas em um amor falso,
trancariam caminhos, levariam doenças e infortúnios. E tudo isso
mediante a uma cobrança em dinheiro.

    E os pobres Exús, o quão tristes ficam com toda essas mentiras,
todas essas falsidades, todas essas hipocrisias usando seus nomes.

    Alguém já pensou nisso?

    Alguém já parou para refletir, como uma Entidade de Luz, que foi
acolhido pelo amor e pelos braços de Deus, que foi abençoado e
presenteado em virar uma Entidade trabalhadora em prol da caridade,
fica quando um consulente chega frente a frente com essa Entidade e
pede para trancar a vida de um irmão, ou amarrar uma pessoa que tenha
seu livre arbítrio de amar ou não amar alguém, ou de destruir uma
família unida pela paz e o amor?

    Acredito que muitas pessoas nunca pensaram nisso, nessa
mediocridade, nessa injustiça, nessa falta de respeito com a Entidade
de Luz, quando chega para pedir absurdos assim.

    E nessa visão vamos ver um diálogo de um Exú e um Preto Velho que
nos demonstra que as Entidades são luz, são divinas, são caminhos, mas
sentem uma tristeza em ver seus filhos, consulentes e protegidos
tentando fazer deles escravos espirituais.

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    Em um certo dia na beleza das terras espirituais de Aruanda,
cidade de luz onde encontramos nossas amadas Entidades, um Exú que
acabara de retornar de um trabalho espiritual de incorporação em um
médium trabalhador de uma casa umbandista, vai até um Preto Velho,
que se encontrava sentado em seu toco de madeira, pitando calmamente
seu cachimbo, soltando a fumaça no ar e observando toda a bela
natureza da cidade espiritual. O Exú chega olhando firme para o velho
negro, e assim se inicia o diálogo:

Exú: Sua benção meu velho.

Preto Velho: Que Pai Oxalá te abençoe meu fio.

Exú: Será que posso ficar um pouco com o senhor meu velho?

Preto Velho: Claro meu fio. Mas porque esse semblante tão
entristecido?

Exú: Acabei de chegar de uma Gira em um Terreiro de Umbanda, no qual
trabalhei com um médium muito honesto, que me deixa a vontade em me
expressar, sem que ele tente interferir ou mistificar.

Preto Velho: Mas isso não é para nos deixar feliz fio? Tantos médiuns
que são tomados pela vaidade, arrogância, falta de humildade. Esse fio
que vosmicê trabaia, sendo um exemplo na religião, e vosmicê chega
tristonho?

Exú: Sim meu velho, eu tenho muito carinho e respeito por esse médium
caridoso, trabalhador da honestidade. Mas, essa tristeza que está
apertando em meu peito meu pai, não é pelo meu amado aparelho. São
pelas pessoas que foram ao terreiro, pessoas que se consultaram
comigo, com meus irmãos e minhas irmãs.

Preto Velho: Sim meu fio, estou começando a entender essa sua
tristeza. Mas vamos tirar ela de seu peito, encoste sua cabeça no
ombro desse veio, deixe seu coração falar, deixe sua luz se acender,
desabafe tudo aquilo que você trouxe la da terra, dos sentimentos dos
homens sem sentimentos.

    O Exú encostando a cabeça no ombro do Preto Velho, como se
pedisse um afago, fez uns segundos de silencio, e logo após se pôs a
falar, num tom baixo, um tanto desanimado, cabisbaixo, parecendo
tentar esconder algumas lágrimas que teimavam em cair de seus olhos.

Exú: Sabe meu pai, nessa gira de hoje tive muitos atendimentos. Homens
que desejavam que seu semelhante perdesse a vida, para que assim
pudesse se apropriar de cargo superior em local de trabalho de ambos.
Mulheres que traziam ódio no coração por um suposto amor, que só ela
entendia que existia, entre ela e um homem, que por seu livre
arbítrio, achou por bem que deveria tomar outro caminho. Tantas
maldades pedidas, tantos desamores, tantas angústias, tanto ódio
espalhados em palavras, tantas cobranças, tantas aberturas dadas a
obsessores, que invadiam os corações e mentes dessas pessoas, fazendo
delas fantoches do espírito do mal.

Preto Velho: Sim meu fio. Entendo o que deseja dizer. Já vi muita
dessas pessoas nas casas de Umbanda, e isso sempre nos traz essa
tristeza que você tem em seu peito.

Exú: Meu velho, tive que lutar muito no dia de hoje, ´para tentar
salvar as almas dessas pessoas. A cada pedido para que seja feito o
mal, novos obsessores chegavam. Meus irmãos que tomavam conta da
tronqueira, lutavam firmemente e arduamente para que nossa gira
não fosse dominada por Kiumbas e Zombeteiros. Minhas irmãs, Pombo
Giras, tentavam se fazer entender, falando as pessoas de coração
sombrio e cheio de ódio, que o amor não se amarra, se conquista. Eu
via por todos os cantos da casa grandes obsessores tragos pelos
filhos que ali estavam simplesmente para pedir o mal, e trazendo nas
mãos marafo, charutos, materiais orgânicos, tentando comprar magias
não existentes. E achando tudo isso a coisa mais natural do mundo.

Preto Velho: E alguns de vosmicês aceitaram essas trocas meu fio?

Exú: Não meu Pai. Estamos acima dessas vontades materiais e orgânicas.
Mas infelizmente temos alguns médiuns mistificadores que usam nossos
nomes para tal recebimento. Dizendo fazerem amarrações, trancamentos,
maldades, fechamentos de caminhos, e muitas outras coisas sujas.

Preto Velho: E vosmicês alertaram o Babalorixá da casa, do acontecido?

Exú: Mas meu velho, era o próprio Babalorixá que se prestava a essas
cobranças, usando o nome de um de nossos irmãos.

Preto Velho: Cada vez mais entendo sua tristeza meu fio. Mas diria a
ti para não se deixar ser levado por esses medíocres da religião, pois
meu fio, a Umbanda está muito acima disso, está muito além dessa falta
de compreensão, muito acima dessa ganância, muito acima desses
obsessores encarnados e desencarnados.

Exú: Sim meu pai. Eu creio nisso também.

Preto Velho: Creia sempre meu fio. Pois Deus espera de nós, Entidades,
essa grandeza de fazer o bem, lutar contra o mal, ensinar os
incompreensíveis a compreender, mostrar o caminhos de luz a quem
teima em buscar escuridão.

Exú: Sabe meu pai, no meu caminho de volta para Aruanda, para não
chegar aqui com tantas cargas negativas, tantos obsessores trancados,
tantos sentimentos humanos ruins, fui até aos irmãos da Calunga
Pequena, para que me auxiliassem a me livrar de tantos pesos deixados
pelos consulentes e seus pedidos incoerentes. Vi muitas moradas de
corpos inertes, corpos esses que as almas estavam presas nas
profundezas clamando por ajuda. Um desses corpos me chamou a atenção
meu velho. Era de um antigo consulente que hora ou outra vinha até mim
pedir para que seus caminhos abrissem, e para isso ele deveria então
passar por cima de um semelhante.
    Esse homem, certa vez me disse que ali onde nos encontrávamos não
teria o "trabalho forte" que ele tanto buscava. Que ali só se falava
em Deus, que ali não abria caminhos que ele desejava abrir, do modo
que ele pretendia. Escutei calmamente aquelas palavras, olhei em seus
olhos e disse, que o caminho dele era ele mesmo que fazia, seu livre
arbítrio era respeitado, assim como ele deveria respeitar o livre
arbítrio de todos.

Preto Velho: Fez muito bem meu fio.

Exú: Lhe disse também, que ele poderia partir, que levasse Deus no
coração, e refletisse sobre aqueles pedidos. E certamente um dia nos
veríamos de novo, e dependendo de seu modo de agir e pensar dentro da
religião, nosso encontro seria ou em um caminho de luz, ou em um
caminho da escuridão, onde eu certamente teria que resgatá-lo.

Preto Velho: Belas palavras meu fio. Vosmicê sabe muito bem como é o
caminho dessa escuridão, esteve lá milhares de vezes resgatando almas
perdidas, buscando seres sem humildade, sem amor, entregues ao ódio,
que muito se arrependeram após conhecer a verdadeira desgraça da
maldade criada em seus próprios corações.

Exú: Isso mesmo meu pai. Um lugar dominado pelo mal, por obsessores,
kiumbas, eguns e Zombeteiros, tomados pela enorme vontade de sugar
todas as energias, todas as formas orgânicas, todos os sentimentos de
ódio que os seres humanos possam espalhar uns para os outros, fazendo
assim que esses espíritos do mal possam ser fortalecidos dia após dia.

Preto Velho: Sim meu fio. Muito triste que os encarnados não
compreendam isso. Esse fortalecimento do mal. Fortalecimento esse
feito pela ganância, por esses pedidos de prejudicação a semelhantes,
entregas de materiais orgânicos, como carne, sangue, e ainda dizendo
que são para os Exús. Muito triste isso meu fio.

Exú: Sim meu velho, muito triste mesmo.

Preto Velho: Mas fio amado, continue me falando desse consulente.
O que aconteceu? Você o encontrou novamente?

Exú: Sim meu velho. Ao ver aquele corpo inerte na Calunga Pequena, e
ao reconhecê-lo, fiquei imaginando onde estaria o seu espírito. E foi
ai que decidi ir até abaixo da linha da luz divina para tentar
encontrá-lo.

Preto Velho: E o encontrou meu fio?

Exú: Sim meu velho. Ele estava nas profundezas, quase sem energia
nenhuma, tomado por obsessores de todos os lados, segurando em uma das
mãos uma imagem de gesso, que ele acreditava ser minha. Uma imagem de
um homem de pés de bode, chifres e cauda do demônio. Em outra das mãos
ele segurava firmemente um grande pedaço de carne sangrenta, meio
apodrecida já, juntamente com uma garrafa de bebida alcoólica e alguns
charutos. Dizia que era sua oferenda para Exú, e que assim que
conseguisse fazer essa entrega, todos seus desejos mais obscuros iriam
se realizar.

Preto Velho: Pobre alma. Não entendeu ainda que só estava energizando
os obsessores, e assim deixando seu espírito sem chance nenhuma de
sair dali.

Exú: Isso mesmo meu pai. Foi ai que eu cheguei perto dele, chamei-lhe
a sua atenção para mim, ergui minha mão em sua direção e lhe disse,
"Venha comigo meu filho. Deixe essas coisas nesse chão imundo. Você e
nem eu precisamos disso."
Ele me olhou firmemente, abraçando junto ao peito todas aquelas
coisas, e disse: "Quem é você? O que quer de mim?"

    Eu respondi tentando ser o mais sereno e convincente possível:
"Sou o Exú que você um dia foi procurar. O Exú que você não aceitou
como protetor. O Exú que lhe disse que um dia íamos nos encontrar
novamente. O Exú no qual você deu as costas e partiu. O Exú que você
afirma que precisa dessas coisas materiais e orgânicas como oferendas.
O Exú que está aqui para tentar lhe mostrar que seu livre arbítrio
ainda tem um poder para te salvar da escuridão eterna e dos obsessores
que tomam toda sua energia para que não tenhas forças para vencer. O
Exú que está lhe dando a mão para sua evolução verdadeira. Deseja vir
comigo?

Preto Velho: E ele aceitou meu fio?

Exú: Infelizmente não meu velho. Ele me olhou de modo desconfiado, de
cima a baixo, e disse: "Você não é um Exú. Onde está seus pés de bode,
seus chifres e cauda. Onde está seus olhos flamejantes, seu odor de
enxofre? Você deseja me enganar para levar minhas oferendas, e assim
eu nunca vou conseguir fazer com que meus inimigos caiam para que eu
consiga o lugar deles, eu nunca vou conseguir fazer os males da doença
seja espalhada a quem um dia me ignorou, eu nunca vou conseguir aquele
amor que deveria ser meu. Preciso amarrar aquela mulher. E você
desejando tudo que tenho para comprar a magia dos Exús de verdade."
Saia daqui, afaste-se de mim."

Preto Velho: Sim meu fio, ele ainda não tinha aprendido a usar o livre
arbítrio para fazer o bem.

Exú: Não meu velho. Ele só via o próprio ódio que estava em seu
coração. Infelizmente não pude fazer nada, além de insistir mais um
pouco, tentar mostrar que eu era um Exú, e que somos Entidades de
Luz, Entidades enviadas por Deus, e não apenas escravos das
oferendas, que para nós é totalmente sem importância. Tentei mostrar
que minha imagem humanizada, que minha voz serena, que minha face
tranquila era exatamente a de um Exú, uma Entidade evoluída que tenta
auxiliar todos os filhos que ainda se prendem aos erros impostos por
alguns médiuns mistificadores ou interesseiros. E deixei bem claro que
só poderia resgatá-lo pela menção de sua vontade, pois respeitaria
seu livre arbítrio eternamente.

Preto Velho: E isso deixou vosmicê bastante tristonho não é meu fio?

Exú: Sim meu Pai. Não conseguir resgatar uma alma da obsessão, dos
espíritos caídos, das trevas eternas, é de maltratar muito os
sentimentos de protetores que nós, Exús e Pombo Giras temos. Mas ainda
ficamos mais tristes quando são colocados nossos nomes como autores
das crueldades, das más intenções, das amarrações, e de tantas coisas
ruins, criadas pelos encarnados, feitos pelos Eguns, pelos
Zombeteiros, pelos Kiumbas e depois cobrados a quem fez esses pedidos
por dezenas e dezenas de obsessores, que vão sugar todas as energias
desses encarnados até eles entregarem seus espíritos as trevas
eternas. E depois nós, Exús e Pombo Giras, temos ainda a missão de
tentar resgatar essas almas, dentro do livre arbítrio delas, as vezes
não conseguimos, e muitas vezes conseguimos. E temos que ouvir alguns
líderes de algumas religiões nos taxando de demônios, senhores das
trevas, vagabundos, prostitutas e amaldiçoados.
Ah meu velho, como é difícil esse trabalho.

Preto Velho: Sim meu fio. Mas vosmicê acredita se fosse fácil seria
uma missão divina?

    Será fio meu, que se ocês, Exús e Pombo Giras, não tivessem essa
missão tão árdua, vosmicês estariam nesse grau tão maravilhoso de
evolução?

    Será que ter essa luta diária contra o mal, sem se deixar ser
levado por oferendas sangrentas, por marafo entregue na encruza, por
pito que faz uma fumaceira que esconde as más intenções, por ebós
banhados por dendê, não faz dos amados Exús e Pombo Giras Entidades
supremas, acima do grau de evolução de muitos seres?

    Será meu fio que quando um encarnado vem com a arrogância pedindo
que faças uma amarração amorosa ou espiritual a um semelhante, e ocês
com toda a humildade, mostram que o amor não pode ser amarrado, que o espírito é livre até
que ele seja entregue aos obsessores através das maldades feitas pelo
próprio encarnado. Mesmo que esse encarnado menosprezem seus
trabalhos, chamando de "trabalho fraco", "trabalho sem força". Mesmo
assim, ocês continuam tentando demonstrar que o bem não pode ser
trocado pelo mal, que a luz não pode ser trocado pela escuridão, que o
amor não pode ser trocado pela amarração. E se mesmo assim esse
encarnado lhe der as costas, ocês o acompanham e o protege, mesmo
sendo vistos ou como Exús fracos, ou como seres do demônio, mas sempre
ali levando a luz.

Exú: Sim meu velho, é assim nosso trabalho. É assim que agimos.
É assim que somos.

Preto Velho: Sabe meu fio, eu enquanto encarnado, nas fazendas de
café, no cativeiro das senzalas sujas e frias, acorrentado nas
correntes da ignorância do homem branco, sendo açoitado nos troncos da
morte, já tive a mesma tristeza que ocês, exús e Pombo Giras trazem
no coração. Então eu elevava minha fé a Zambi, rezava uma oração,
pedia a nosso Deus poderoso para perdoar aqueles feitores que nos
castigavam cruelmente, aqueles coronéis sedentos da ganância que nos
vendiam como animais, aqueles homens e mulheres de peles branca como a
nuvem que nos açoitavam, nos humilhavam, nos matavam friamente, apenas
para demonstrar poder, apenas porque éramos negros na pele, esquecendo
que tínhamos um coração que batia e chorava igualmente a todos, que
tínhamos o sangue vermelho correndo nas veias como todos os seres de
Deus, que amávamos, sentíamos dor, fome, sede, e tudo mais como os
brancos. Mas mesmo assim éramos vistos como fracos, diferentes,
escória, feiticeiros, endemoninhados.
Então meu fio, talvez seja melhor fazermos uma prece para essas almas
perdidas, para esses mistificadores que tentam se passar por ocês,
para esses falsos líderes religiosos que necessitam de criar um
inimigo que venha das trevas para induzir aos pobres fiéis sem
conhecimento, e assim tirar todo seu ouro e prata, para todos que por
ignorância imagina que a linha "docês" traz o mal, faz feitiçarias,
amarra almas e sentimentos, tudo isso trocado pelo sangue, carne,
velas, marafo, ebó, padê, como escravos das trevas.
A prece acalma, traz luz a esses seres, afasta obsessores, encaminha
almas, traz alegria. Vamos fazer essa prece meu fio?

Exú: Meu velho, o senhor tem uma sabedoria grandiosa. suas palavras já
acalmaram meu coração. Vamos meu velho, vamos fazer nossa prece.

Preto Velho: Antes meu fio, dá cá um abraço nesse veio, que já está
com lágrimas no zoio.

Preto Velho/Exú: Deus nosso Pai, que sois todo poder e bondade...

... Que assim seja!
**********************************************************************

    Respeitem as Entidades de Luz. Amem essas Entidades assim como
elas amam a todos.

    Ao se consultarem com uma Entidade de Luz, reflita muito bem sobre
o que vai pedir. As Entidades nunca fazem o mal, elas agem dentro da
caridade suprema, elas não são escravas que trabalham em troca de
migalhas e nem em troca de todo ouro do mundo. As Entidades tem como
lema, fazer sempre o bem, nunca vai contra o livre arbítrio das
pessoas, nunca iria fechar caminhos de alguém simplesmente porque
outro alguém pediu, nunca iria amarrar um amor ou um espírito, pela
falta de amor próprio ou prepotência de um consulente desavisado,
nunca fariam parte das trevas do demônio, tendo a luz divina de Deus
iluminando sua caminhada e sua evolução.

    As Entidades da Umbanda, nossos amados Pretos Velhos, Caboclos,
Boiadeiros, Ibeijadas, Malandros, Ciganos, Pombo Giras e os nossos
mais que amigos e guardiões Exús, são anjos enviados pelo Pai Maior
para nos salvar de nós mesmos.

Reflita muito bem sobre isso, antes de levarem seus supostos problemas
a um terreiro de Umbanda.

Salve a Umbanda!

Salve os Orixás!

Salve todas as Entidades de Luz!

Carlos de Ogum.

 
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